22 de jul. de 2013

Reinventar a cidade

Cidades são espaços cada vez mais segmentados. As pessoas vivem em nichos, concentram-se em grupos que “falam a mesma língua” e gostam de conviver com o parecido. O contato com o diferente é raro e, por vezes, evitado.
Os diversos Condomínios espalhados pela cidade estimulam ainda mais esta forma de viver. Condôminos pagam caro por áreas de lazer restritas para garantir a “boa frequência e evitar encontros desagradáveis”. Quem opta por viver num condomínio busca segurança – de fato, uma necessidade -, mas será que estas pessoas estão realmente seguras dentro destes núcleos fechados?
Não acredito que estejam. Frequentes arrastões em edifícios de alto padrão e assassinatos por pequenos motivos – como recentemente, por barulho – comprovam que a segurança dentro de um condomínio de luxo é ilusória.
Segurança só vai existir, quando entendermos que o sentido e a direção a se seguir é oposta à que caminhamos. O viver comunitário, aparentemente ultrapassado, faz-se necessário. Não é possível que as relações com os vizinhos sejam restritas às frequentes brigas de condomínio. Precisamos reinventar o viver na cidade. O viver múltiplo, o viver que faz do outro, um companheiro e não uma ameaça.
Há quase cinco anos, desenvolvemos, na vizinhança do bairro onde moro, um movimento de revitalização das praças do meu entorno: o Movimento Boa Praça. Nossa proposta é resgatar as praças e, também, os “boas praças” da cidade.
O Movimento Boa Praça atua com eventos comunitários na praça - os já tradicionais piqueniques que acontecem todos os últimos domingos do mês - que têm dois lemas: o primeiro é que a praça, após o piquenique, tem que estar melhor do que antes dele; e o segundo é que cada indivíduo que chega é fundamental e deve ser acolhido.
O alvo dos piqueniques são os vizinhos. Pedimos que cada um leve um prato de comida, uma bebida e uma caneca para, assim, cada um colaborando com um pouco, podermos conviver, experimentar a praça e pensar a cidade. O objetivo é confraternizar. O som que se houve é o da alegria de crianças brincando ou amigos e vizinhos colocando o papo em dia.
Por meio do Movimento já me conectei com vários “boas praças”, pessoas com a vida bem diferente da minha, com histórias e culturas tão diferentes que, se não fossemos vizinhos e vivêssemos no entorno da mesma praça, talvez nunca tivéssemos nos encontrado. É um presente perceber como existe gente bacana no mundo... e, melhor, morando bem perto de mim!
Conviver com a diferença propicia aprendizado; temos a oportunidade de quebrar paradigmas por meio de uma nova forma de ver o mundo. Mas para isso acontecer, é preciso estar aberto ao novo. Vale lembrar que a praça está na origem da  cidade e serviu como base de sustentação da vida comunitária - por exercerem papel de ambiente de confraternização ou mesmo, de debate entre os povos. Praças são lugares que têm como fundamento, o contato humano.

Com estas ideias em mente, deixo aqui um convite. Que tal vivermos uma vida diferente, mais aberta e mais humana? Queremos segurança não queremos? Então, vamos começar construindo menos muros e mais pontes, menos prédios e mais praças, menos solidão e mais conexão. É possível, basta querermos de verdade.

Artigo publicado no encarte de Meio Ambiente da Revista Brasileiros - Junho/2013