13 de nov. de 2013

A História de uma Praça 

Linda e repleta de quaresmeiras floridas, a Praça Amadeu Decome situa-se em um dos pontos mais altos da cidade de São Paulo, entre a Rua Sepetiba e a Cerro Corá. É conhecida também como o Mirante da Lapa, pois sua vista é uma das mais bonitas da região. Nesta praça há uma nascente de água cristalina e um rio que ali nasce...

Esta poderia ser a única realidade da Amadeu Decome não fossem alguns detalhes: os postes de luz estão acima da copa das árvores, o que a torna escura à noite. A limpeza é feita pela subprefeitura (Lapa), apenas em seu entorno, e a parte central acaba ficando tomada de tanto lixo. Não existe lata de lixo, a topografia é de difícil acesso, sem manutenção. O lugar que marca a nascente parece mais uma lata de lixo, mal dá para imaginar que um dia tivemos ali, o Rio Tiburtino.

Há cinco anos, nós moradores do bairro, desenvolvemos na vizinhança, um projeto de revitalização desta praça – O Movimento Boa Praça. Com a colaboração de todos, buscamos conviver, experimentar a praça e pensar a cidade. A nossa atuação está em várias frentes, como os já tradicionais piqueniques que acontecem a cada último domingo de mês e que tem como lema deixar a praça sempre melhor do que quando a encontramos, e outras, como refletindo sobre leis, dialogando com políticos, administradores públicos e sociedade ou desenvolvendo pesquisas e mapeamentos no entorno.

Este ano, participamos da X Bienal de Arquitetura, que trouxe o tema “Cidade: Modos de Fazer, Modos de usar”. Com a meta de dar continuidade ao sonho de reconstrução coletiva de uma nova Amadeu Decome, convidamos o arquiteto Tomaz Lotufo (meu irmão), para desenvolver um workshop com o tema "Design de Interesse Publico", a metodologia de trabalho que opera com o princípio do fazer COM e não o fazer PARA - ou seja, a comunidade como centro do projeto.

Após o workshop com Tomaz, realizamos, neste último domingo, 27/10/2013, um dia de reconhecimento da praça Amadeu Decome. Além dos arquitetos, convidamos a comunidade do entorno, interessados em geral e a subprefeitura. Conversamos sobre possibilidades e ideias que surgiram no workshop, apresentamos dados e olhamos cuidadosamente a praça para pensarmos, juntos, em equipamentos que poderiam abastecê-la de vida. O Subprefeito da Lapa, Ricardo Pradas, colocou-se a disposição para nos ajudar nesse processo. Por fim, formamos um grupo de trabalho que dará continuidade ao projeto.

Está na hora de pensarmos, não só o que é, mas como poderia ser esta praça. A ideia é estender nosso imaginário em relação ao que é possível fazer em uma praça, dando vida a este espaço que nos pertence: um café para o fim de tarde? padaria artesanal? mirante, feira livre, espaço de reuniões? jardins ecológicos que absorvem a água da chuva, produzem alimentos e são rodeados por pomares?

Com estas possibilidades em mente, deixo aqui um convite: que tal participar com a gente deste processo de transformação?

Vejam Reportagem do Jornal da Gente - Lapa




22 de jul. de 2013

Reinventar a cidade

Cidades são espaços cada vez mais segmentados. As pessoas vivem em nichos, concentram-se em grupos que “falam a mesma língua” e gostam de conviver com o parecido. O contato com o diferente é raro e, por vezes, evitado.
Os diversos Condomínios espalhados pela cidade estimulam ainda mais esta forma de viver. Condôminos pagam caro por áreas de lazer restritas para garantir a “boa frequência e evitar encontros desagradáveis”. Quem opta por viver num condomínio busca segurança – de fato, uma necessidade -, mas será que estas pessoas estão realmente seguras dentro destes núcleos fechados?
Não acredito que estejam. Frequentes arrastões em edifícios de alto padrão e assassinatos por pequenos motivos – como recentemente, por barulho – comprovam que a segurança dentro de um condomínio de luxo é ilusória.
Segurança só vai existir, quando entendermos que o sentido e a direção a se seguir é oposta à que caminhamos. O viver comunitário, aparentemente ultrapassado, faz-se necessário. Não é possível que as relações com os vizinhos sejam restritas às frequentes brigas de condomínio. Precisamos reinventar o viver na cidade. O viver múltiplo, o viver que faz do outro, um companheiro e não uma ameaça.
Há quase cinco anos, desenvolvemos, na vizinhança do bairro onde moro, um movimento de revitalização das praças do meu entorno: o Movimento Boa Praça. Nossa proposta é resgatar as praças e, também, os “boas praças” da cidade.
O Movimento Boa Praça atua com eventos comunitários na praça - os já tradicionais piqueniques que acontecem todos os últimos domingos do mês - que têm dois lemas: o primeiro é que a praça, após o piquenique, tem que estar melhor do que antes dele; e o segundo é que cada indivíduo que chega é fundamental e deve ser acolhido.
O alvo dos piqueniques são os vizinhos. Pedimos que cada um leve um prato de comida, uma bebida e uma caneca para, assim, cada um colaborando com um pouco, podermos conviver, experimentar a praça e pensar a cidade. O objetivo é confraternizar. O som que se houve é o da alegria de crianças brincando ou amigos e vizinhos colocando o papo em dia.
Por meio do Movimento já me conectei com vários “boas praças”, pessoas com a vida bem diferente da minha, com histórias e culturas tão diferentes que, se não fossemos vizinhos e vivêssemos no entorno da mesma praça, talvez nunca tivéssemos nos encontrado. É um presente perceber como existe gente bacana no mundo... e, melhor, morando bem perto de mim!
Conviver com a diferença propicia aprendizado; temos a oportunidade de quebrar paradigmas por meio de uma nova forma de ver o mundo. Mas para isso acontecer, é preciso estar aberto ao novo. Vale lembrar que a praça está na origem da  cidade e serviu como base de sustentação da vida comunitária - por exercerem papel de ambiente de confraternização ou mesmo, de debate entre os povos. Praças são lugares que têm como fundamento, o contato humano.

Com estas ideias em mente, deixo aqui um convite. Que tal vivermos uma vida diferente, mais aberta e mais humana? Queremos segurança não queremos? Então, vamos começar construindo menos muros e mais pontes, menos prédios e mais praças, menos solidão e mais conexão. É possível, basta querermos de verdade.

Artigo publicado no encarte de Meio Ambiente da Revista Brasileiros - Junho/2013