Cidades são espaços cada vez mais segmentados. As
pessoas vivem em nichos, concentram-se em grupos que “falam a mesma língua” e
gostam de conviver com o parecido. O contato com o diferente é raro e, por
vezes, evitado.
Os diversos Condomínios espalhados pela cidade
estimulam ainda mais esta forma de viver. Condôminos pagam caro por áreas de
lazer restritas para garantir a “boa frequência e evitar encontros
desagradáveis”. Quem opta por viver num condomínio busca segurança – de fato,
uma necessidade -, mas será que estas pessoas estão realmente seguras dentro
destes núcleos fechados?
Não acredito que estejam. Frequentes arrastões em
edifícios de alto padrão e assassinatos por pequenos motivos – como
recentemente, por barulho – comprovam que a segurança dentro de um condomínio
de luxo é ilusória.
Segurança só vai existir, quando entendermos que o
sentido e a direção a se seguir é oposta à que caminhamos. O viver comunitário, aparentemente ultrapassado,
faz-se necessário. Não é possível que as relações com os vizinhos sejam
restritas às frequentes brigas de condomínio. Precisamos reinventar o viver na
cidade. O viver múltiplo, o viver que faz do outro, um companheiro e não uma
ameaça.
Há quase cinco anos, desenvolvemos, na
vizinhança do bairro onde moro, um movimento de revitalização das praças do meu
entorno: o Movimento Boa Praça. Nossa proposta é resgatar as praças e, também,
os “boas praças” da cidade.
O Movimento Boa Praça atua com eventos comunitários
na praça - os já tradicionais piqueniques que acontecem todos os últimos
domingos do mês - que têm dois lemas: o primeiro é que a praça, após o
piquenique, tem que estar melhor do que antes dele; e o segundo é que cada
indivíduo que chega é fundamental e deve ser acolhido.
O alvo dos piqueniques são os vizinhos. Pedimos que
cada um leve um prato de comida, uma bebida e uma caneca para, assim, cada um
colaborando com um pouco, podermos conviver, experimentar a praça e pensar a
cidade. O objetivo é confraternizar. O som que se houve é o da alegria de
crianças brincando ou amigos e vizinhos colocando o papo em dia.
Por meio do Movimento já me conectei com vários
“boas praças”, pessoas com a vida bem diferente da minha, com histórias e
culturas tão diferentes que, se não fossemos vizinhos e vivêssemos no entorno
da mesma praça, talvez nunca tivéssemos nos encontrado. É um presente perceber
como existe gente bacana no mundo... e, melhor, morando bem perto de mim!
Conviver com a diferença propicia aprendizado;
temos a oportunidade de quebrar paradigmas por meio de uma nova forma de ver o
mundo. Mas para isso acontecer, é preciso estar aberto ao novo. Vale lembrar
que a praça está na origem da cidade e serviu como
base de sustentação da vida comunitária - por exercerem papel de ambiente de
confraternização ou mesmo, de debate entre os povos. Praças são lugares que têm
como fundamento, o contato humano.
Com estas ideias em mente, deixo aqui um convite.
Que tal vivermos uma vida diferente, mais aberta e mais humana? Queremos
segurança não queremos? Então, vamos começar construindo menos muros e mais
pontes, menos prédios e mais praças, menos solidão e mais conexão. É
possível, basta querermos de verdade.
Artigo publicado no encarte de Meio Ambiente da Revista Brasileiros - Junho/2013