Tive uma formação sólida em casa e isso me ajudou a encarar a responsabilidade de ser uma porta voz. No início foi difícil mas aos poucos fui me abrindo e me descobrindo. Uma das coisas que aprendi foi de que a vida coletiva é a minha opção. Acredito nas pessoas e na possibilidade de transformação a partir da união e do reconhecimento mútuo. Aos 20 anos resolvi arrendar uma pousada em Caraíva (no sul da Bahia). Na época lá não tinha luz elétrica e nem água encanada. Aprendi na prática o que é viver em conexão com a natureza e também o que significa ter um negócio sustentável. Depois dessa experiência, ainda morei durante um tempo na Ilha de Malta e depois na Itália. Conheci culturas distintas e, além de aprender a me virar em um mundo desconhecido, ainda tive a oportunidade de resgatar as minhas origens familiares.
Sou formada em administração de empresas e na faculdade me sentia um peixe fora d'Água. Nunca quis trabalhar em bancos ou empresas de grande porte embora tenha trabalhando por um bom tempo com TV por assinatura. Essa experiência me despertou a pensar a vida de outra forma, não queria ser mais uma no mercado. Resolvi então usar o meu conhecimento para ensinar técnicas do não consumo e do consumo responsável. Fundei uma ONG nesta área e trabalhei ministrando cursos e oficinas para professores de escola pública. Quando tive meus filhos, descobri um mundo de excessos que me incomodou muito. A quantidade de presentes, de lixo decorrente de um brinquedo feito para durar apenas 1 dia, as embalagens ou mesmo o excesso de estímulo desnecessário me fez repensar como gostaria de criar as crianças. Nesse contexto, minha filha que iria fazer 4 anos, me pediu que comemorasse o aniversário dela em uma praça perto da minha casa. Lá tinha um parquinho que ela gostava muito só que estava bem degradado. Aproveitei a oportunidade para oferecer a ela uma proposta de abrir mão dos presentes em nome da reforma do parquinho. Ela topou e eu lancei a ideia para vizinhos, amigos e familiares.
A aceitação foi grande e a participação também. A praça recebeu muitas doações, o parquinho ficou lindo. Mas a felicidade durou pouco e algum tempo depois já era visível novamente a degradação do espaço. Entendi que não bastava um evento pontual e que precisávamos criar algo permanente de uso e manutenção da praça. Fui buscar novamente os vizinhos e amigos e decidimos que faríamos um piquenique comunitário por mês. Dessa coletividade nasceu um movimento de ocupação de melhoria do espaço público chamado Movimento Boa Praça. Através desse movimento tive a oportunidade de conhecer muita gente bacana que morava do meu lado e eu nunca tinha visto antes. Meus filhos também puderam conviver em sociedade e aprender desde cedo o que é cidadania.
Nesse processo também acabei me candidatando a dois conselhos na subprefeitura, o CADES e o CPM. Virei uma interlocutora das questões locais. Todo esse trabalho me demandou bastante dedicação, entretanto, era tudo voluntário e eu precisava pagar minhas contas. Foi aí que decidi abrir a Dona Rosa Pizzaria. Meu pai tem já há quase 30 anos a Oficina de Pizzas, além disso, pizza é o cardápio principal da minha familia e não sobra ninguém que não saiba colocar a mão na massa. Encontrei uma casa a venda próxima de onde eu morava e adaptei o espaço para a pizzaria. A senhora que nos vendeu a casa era muito simpática e conhecida na região. Enquanto comunicava os vizinhos sobre a nova pizzaria que estava por vir, muitos me falavam - sei bem onde é, na casa da Dona Rosa! - Percebi então que a pizzaria já tinha nome. No nosso primeiro ano de vida, mesmo eu tendo nascido no bairro e conhecendo tanta gente do entorno, não tivemos um bom resultado. No final do ano quase teríamos fechado as portas não fosse a ajuda financeira do meu cunhado. Entendi que o que faltava era o hábito dos moradores locais de buscarem alternativas no próprio bairro. Acabei me juntando aos outros pequenos comerciantes da região e fizemos juntos um mapa ilustrado. Nesse mapa resgatamos o nome antigo do bairro que não era mais usado pelos novos: Vila Jataí. Na oportunidade de lançamento do mapa, aproveitamos a onda de discussão do plano diretor estratégico e fizemos a proposta de criação do nosso plano de bairro. Isso ia de encontro também com a necessidade de ocupação das praças que são espaços de encontro comunitário e que só desempenham sua função, caso exista uma comunidade que queria se encontrar. A partir daí a realidade da pizzaria mudou, comecei a proporcionar encontros comunitários no espaço e a fomentar a discussão e a construção desse projeto. Hoje temos Já muito disso encaminhado.
Nossa ação já se ampliou para os bairros vizinhos: Vila Ida e e Vila Beatriz e já nomeamos o nosso território de Ecobairro. Descobrimos muitas nascentes na região, também antigos rios já sobrepostos pela cidade que cresceu, fizemos festa junina, caminhadas de reconhecimento das potências do território, mapeamos áreas vulneráveis, locais com falta de transporte ou iluminação e muitas outras coisas, escrevemos um projeto que encaminhamos para a secretaria de desenvolvimento urbano. Conseguimos algumas conquistas, como frear a construção de grandes prédios na localidade ou mesmo uma nova lei de gestão participativa de praças. Enquanto isso vou também tocando a pizzaria, recebo meus clientes com amor e faço a minha pizza da forma mais artesanal possível. Vivo dificuldades por ser pequena comerciante, mas estamos sobrevivendo e podendo fazer história. Fica aqui o convite para que nos conheçam. Também ministro curso de pizza para grupos de 6 a 10 pessoas. Tenho um forninho a lenha portátil para eventos e ainda um espaço gourmet dentro da pizzaria para aqueles que querem convidar os amigos para uma pizzada.