Acredito no poder do indivíduo, na articulação local e na vida comunitária. Vivo isso intensamente e cada vez mais acredito que uma transformação efetiva na nossa sociedade só vai acontecer na hora em que todos os habitantes da nossa cidade resolverem assumir seu papel de cidadãos. Ao mesmo tempo, acredito também que, apenas com políticas publicas consistentes que visualizem esse fortalecimento e garantam o espaço possível desta atuação local , é que vamos conseguir de fato resultados.
A realidade que vivemos hoje, não favorece que ações como a do Movimento Boa Praça aconteçam de forma efetiva. É muito difícil para mim por exemplo, que sou mãe de dois filhos e tenho muita conta para pagar, além das obrigações como mãe (que são muitas), conseguir atender a todas as demandas que vão surgindo conforme vamos imergindo dentro da comunidade.
No caso do Boa Praça, onde queremos consolidar um espaço de encontro, debate, comunhão, dando para a praça uma função comunitária, acabamos por encontrar além de uma praça deteriorada, uma comunidade praticamente inexistente e que não está preparada minimamente para dialogar... Neste sentido, o foco que a princípio era a praça, acaba indo também para a comunidade pois sabemos que, ao fortalecer a comunidade, poderemos gerar por conseqüência um maior interesse nestes espaços publicos.
Na hora que resolvemos lidar com estas questões comunitárias, nos deparamos com problemas de diversos setores; as duas escolas estaduais que temos aqui no entorno por exemplo, são caóticas. Uma delas, a Mauro de Oliveira, parece literalmente uma prisão. Cheia de grades e muros recém construídos, essa escola que originalmente tinha um projeto muito bacana, hoje tem medo de seus alunos e os trancafia com cadeados por medo de violência (coisa que vem acontecendo bastante por aqui). O Ciridião, a outra escola, também é uma vergonha... Para se ter uma idéia, demoramos mais de 2 meses só para conseguir agendar uma reunião com a diretora e, quando conseguimos finalmente uma conversa, encontramos a escola totalmente fechada para qualquer tipo de ação que envolva uma atuação coletiva escola e comunidade...
Estou dizendo tudo isso, só para justificar o meu comentário de que as demandas são muitas (e ainda estamos só no começo...) e os recursos.... zero. Quando conversamos com as empresas locais, por exemplo, pedindo auxílio nesse processo, a resposta normalmente é negativa, vez ou outra conseguimos parcerias pontuais mas sempre com a grande e velha contrapartida do marketing, o que elas querem é divulgar o produto delas, não estão nem aí com o entorno delas...
Pois é, esta realidade de cidadã que apenas quer viver em comunidade... é muito difícil. Mesmo no nosso caso (boa praça) que já temos algum caminho andado como já uns 30 vizinhos articulados atuando diariamente na comunidade (de forma 100% voluntária), mais uns 300 que auxiliam a gente com divulgação e ajudas pontuais, só conseguiremos chegar em algum lugar de fato quando tivermos políticas publicas conectadas a essa realidade ou mesmo que favoreçam este debate para que mais e mais pessoas se sintam dispostas a fazer alguma coisa em nome do lugar onde vivem.
Ou seja, além de depositar o poder em nós mesmos (o que é fundamental), precisamos ter um governo que fale a nossa língua, que entenda estas nossas demandas, que busque soluções conjuntas e que abra espaços de trocas, debates e comunhão....